quinta-feira, abril 28, 2005

Desistência

Quem te viu vaidosa
Quem te vê vadia
Quem te viu de fato
Quem te vê fatia
Quem te viu Maria
Quem te vê mareia

terça-feira, abril 26, 2005

Ledo Ivo

"A Passagem" :
"Que me deixem passar - eis o que peço
diante da porta ou diante do caminho.
E que ninguém me siga na passagem.
Não tenho companheiros de viagem
nem quero que ninguém fique ao meu lado.
Para passar,exijo estar sozinho,
somente de mim mesmo acompanhado.
Mas caso me proíbam de passar
por seu eu diferente ou indesejado
mesmo assim eu passarei.
Inventarei a porta e o caminho
e passarei sozinho".

terça-feira, abril 19, 2005

Telepatia

Liam-se um ao outro. Nenhum segredo atrás das portas da mente de cada um.

Quando ele pensava nela, imediatamente ficava sabendo em que ou quem ela estava pensando, os lugares em gostaria de estar, as lembranças que ela cultivava com maior afinco.

Quando ela pensava nele, descobria num segundo a medida do seu apreço por essa ou aquela pessoa ou coisa, o presente reservado a cada indivíduo de suas relações, o gosto deixado na memória por cada sensação ou palavra.

Então veio o momento em que ela viu uma cor mais rubra que o natural na saudade que ele tinha de uma antiga namorada. E ele, por sua vez, desconfiou daquela palavra que ela dizia sem mover os lábios toda vez que um certo admirador lhe dirigia um elogio. A mente de cada um se inflamou em um pensamento raivoso, de uma cólera maciça, de uma vontade sôfrega de fazer sofrer aquele que o roubava. Destruíram-se.

Cada um deles anda hoje como um trapo louco, sem a mínima noção da mais veemente realidade. Só se relacionam com coisas. Ela tenta ler as idéias de um manequim na loja de vestidos. Ele insiste em extrair emoções de uma carta de baralho. Ambos percebem a inutilidade de suas tentativas. E sorriem, aliviados.

segunda-feira, abril 18, 2005

Entre a primeira e a milésima porta

Foi inaugurada no dia 17/4 a Casa das Mil Portas, um projeto literoblogosférico do celebrado Nemo Nox. Entra-se por uma porta aleatória, dá-se de cara com um microconto não escolhido, de até cinqüenta caracteres. Bom mesmo é entrar e comprovar. Fico feliz em ter participado. Blogueiros interessados em participar do projeto podem conhecer as regras do jogo e divertir-se.

quarta-feira, abril 13, 2005

Vetusto

No meu tempo de escola, não havia essas mochilas de rodinhas e ninguém da minha turma teve problemas de coluna. Esses aparatos só vieram pra encarecer a escola da molecada. No meu tempo Dona Soraia mantinha os pupilos na linha, disciplina sim senhor, essa palavra que hoje soa com teias de aranha na hora de muita gente falar.

É claro que havia aquelas musiquinhas alusivas à moral e aos costumes das professoras, coordenadora, diretora. Tudo muito chulo e desrespeitoso. Mas a gente cantava no maior segredo, só no meio da nossa patota. Ou galera, como dizem hoje.

E ai de quem fosse pego riscando as paredes, as cadeiras, brigando no pátio, fumando escondido no banheiro. E acabo de lembrar, aquele baixinho da sétima série vivia me filando cigarros. Ainda bem que o entreguei à diretora, e ele levou uma suspensão. Como eu disse, havia disciplina.

segunda-feira, abril 11, 2005

Quinta coluna

Tinha uma pedra no meio do caminho.
E eu a teria tirado, se não fosse a outra
dentro do sapato.

sexta-feira, abril 01, 2005

Entre as estrelas

O escriba que volta e meia compartilha aqui seu verbo comparece este mês na revista Patife, no especial Em nome do Pai, da Mãe e dos Filhos, com o conto Entre as estrelas. Bem sugestivo o título, já que lá também comparecem Elton Pinheiro, Ana Beatriz Guerra e grande elenco. Agradeço a Eliana e aos leitores dessa festa.