sábado, dezembro 08, 2012

Sem nobreza

Impregnação de risos, e eis que estou à porta e bato. Ainda mais que antes de tudo eu já era, imerso na perambulação dos velhos signos sem relevância. Você se furta ao embate contra os desígnios divinos, meu caro, mas nada neste vale está acima da sombra da morte. Seu contrassenso reivindica uma existência já condenada. Venha me render esta sua última e inútil homenagem, em que pese essa a fala roufenha dessa sua insistência em comprar outro subterfúgio. Não sou de protelações, meu amigo, não negocio prazos, como os seus advogados. É na cova fria que sua intempérie de homem de ação descansa no meu deboche. Tanto pior para você, se me rejeita, tão indiferente é para mim arrastar um camponês ou um presidente de conselho de acionistas, um inopinado morador do deserto ou vinte mil soldados nas trincheiras aparentadas com o esquecimento. Sem essa delonga de choro convulso, que a minha comoção traz a marca de toda caveira, os dentes à mostra para lembrar a matéria cínica de que sou feito. Adiante seu primeiro passo neste umbral, e toda rendição será só o clichê dos vencidos. O calendário é o epitáfio comum.