quarta-feira, março 02, 2011

Acontecimento

Quando o sol se derramou na cidade, sem requerimento nem timidez, também aqueles olhos se impuseram na paisagem, indecifráveis e sutis, como quem zomba sem querer de alguma lei que não consegue cumprir.

À medida que a população anônima almoçava sem reservas, arrotando os comentários da manhã útil, apregoando os feitos sem promoção, ela se refez em verbo, avalanche morena e cálida de uma conversa de contralto, um quitute improvável que quase ninguém aprendeu na sobremesa.

E o carro de Apolo terminou o arco inexorável, a escuridão dos vulgares encobriu a terra sem sobressaltos, enquanto os olhos altivos desfilaram no asfalto um samba de cabrocha superior ao entendimento.

Ela se foi, sempre única, em meio ao número incontável dos que não a veriam, mesmo que se repetisse esse olhar de fevereiro.