segunda-feira, dezembro 22, 2008

Estradas

Muitos faróis cegos sem lâmpadas e sem dianteira. Corpos nos interiores que mal se percebem na escuridão dos cansaços.

E se calhar, por um segundo, que o centro do mundo seja aqui, neste grão de asfalto, sem voz nem alento? E se esse momento seco destronar as trajetórias, se ele se bastar de repente e aborrecer os meios, as esperas, os anseios? Se essa abastança vazia se satisfizer sem depois?

A volta para casa. Sombras abertas em leques de cinza e grafite. Esse negrume que ostentam os médios sem alegria no tanque. Veículos lentos.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

A menina que roubava o tempo

Ela veste a própria insânia quando vai passear nas ruas de saia rota e cansada. Aprendiz de louca, incapaz de aprender a voar. Dos males o menor.
Ela pediu ao Papai Noel que lhe desse um trenó, a desvairada. Impossível atender, nada de alimentar a concorrência, disse o mau velhinho, que de uns tempos para cá, vestia verde.
Por caridade, ela deu aos pobres seu lenço vermelho, Rifaram os depojos da dama: o prêmio não construiu as paredes e o vento continuou vindo.
Hoje, excepcionalmente, haverá show de rapacidade na feira do centro do bairro. Ela diz que ninguém rouba sonhos melhor do quem rouba minutos. Por hoje, acredito.