segunda-feira, janeiro 22, 2007

Carpe diem

Amanheceu tarde. A cama rodava, o quarto rodava, o mundo rodava e a vida já era um círculo.
O quarto desordenava: as meias penduradas no abajur contracenavam com os sapatos no aquário. Pobres peixes.

A garota ao lado inexistia.

Com a imperícia dos bêbados, rastreava os chinelos sob a cama, sem abaixar a cabeça, o que seria o colapso. Não encontrara os malditos.

Arrastando-se até o banheiro, o vulto trôpego chegou a tempo de evitar o vômito no chão. Após as golfadas, caiu sentado ao lado do vaso, suando frio, pressão ao chão, parecia o fim. Sempre parecia. Levantou-se bravamente e enfiou-se sob o chuveiro frio, lamentando o choque e bendizendo o efeito. Sentia-se seminovo após o banho.

Voltou ao quarto. Vestiu a roupa do dia e riu da coincidência: era a mesma de antes.
Havia algo a ser feito. Era preciso valorizar o dia, que já ia quase pela metade.

O bar do Chico estaria aberto e a conta passada estava paga. Sentiu-se disposto ao tomar a primeira. Pediu outra. Nem tudo estava perdido. Pensava em se vingar da má sorte, haveria de mudar. Esse era outro dia. Lá fora o mundo girava.