quarta-feira, dezembro 28, 2005

Dezembro

Agora lembro porque ainda guardo a neve nos cartões. Ao redor das luzes do pinheiro de plástico pairava a costumeira vontade de paz e os filhos de enfartáveis pediam a Noel pais interativos. Mamãe passa o ano todo viajando.

O ano caiu como neve sobre o rosto triste, pequeno e ainda sonolento do desengano dos sonhos. Pela manhã a porta se abria para o dia voraz. Um ciclone e logo desaparecia o homem sisudo e sua pasta preta. De resto, o choro indefeso e o bater da porta, porque a babá tem mais o que fazer.

No quintal se abria com os amigos: insetos e plantas, crianças como ele. Ciranda, vamos cirandar, vamos dar a volta e meia que cada lágrima cai no chão, germina um pé de feijão mágico e brinca de chuva com as formigas, mas Noel sempre chega de botas secas e grita sorrindo sem gripe na voz: Feliz Natal.

O somatório de todos os dias úteis mortos de cansaço. Abrir caminho a facão, na selva do sono, para encontrar a cidade dos abraços. A porta range morosa, devolvendo de má vontade o que sobrou do homem calado. A mão estéril do homem calado troca a pasta pelo pasto e as teclas experientes da tevê. Sozinho, que já passou da hora de criança ir para a cama.

A janela do quarto. Os postes derramam uma luz amarela como um sorriso sem graça. No cartão da mãe as frases são projetadas e a letra é bonita. Pela janela parece Papai Noel no trenó das renas, mas é só um avião que não traz ninguém para mais perto. Vantagens de um quarto no andar de cima.

Na ponta dos pés e da esperança chego à sala. Toco o pulso do homem sentado às margens do Natal. Chamo-o de pai, querendo ser ouvido até a meia-noite. Outro apelo a um Noel de agenda cheia.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Voltas do mundo

Nesse meio tempo, encontro Décio. Deixou a filha com a ex-mulher e foi pra casa, descansar.
A moça que trabalhava na casa dele namorava um rapaz que jogava num time de várzea, quando um olheiro o colocou no júnior do Corinthians. De olheiro em olheiro, hoje joga no Porto. Estão casados.
Décio diz que ela é um mulherão.