domingo, julho 20, 2008

Bilhete do meio-fio

A alguém que espere em dia ventoso e inquieto pelo trem que não deu a conhecer seu horário, pelo navio que ninguém sabe se chegará.

A quem tenha passado a vida carregando bagagem de que desconhece o conteúdo, se camisas puídas ou novas, se meias de sete léguas ou centímetros:

Mesmo que te esbugalhassem continuamente os olhos as benesses e o inusitado e muito aceno inatingível dos horizontes desde sempre por ti não pisados, fato é que estes teus olhos se adaptariam, órbitas dilatadas, grandes esferas disformes, ao ritmo e à cor desse assim dito maravilhoso, e o tudo desse tanto passaria a ser para ti trivial.

Pelo que, desde já, toma agora teus panos gastos, calça tuas alpercatas sem glamour nem intensidade, põe às costas o suprimento de pão reles e tosco, pisa a estrada, a qual findará quando findares, e onde de quando em quando te dirás feliz por teres logrado um dia a mais de passagem.