quarta-feira, abril 25, 2007

Vila Pasárgada

Pedro bebericava os episódios um a um, quantas doses rarefeitas, até que a vida se esvaísse em mililitros. Até que chegou Catarina, com seu quê de tufão arrepiador de pêlo e fleuma. Catarina que lhe ensinou a fecundar os dias, antes obsessivamente monocultores, com a vária semente da crescente vida.
Na praça central e única de Vila Pasárgada, ela desceu do ônibus sacolejante e empoeirado bem diante do chafariz inofensivo e do inofensivo Pedro sentado na borda da ponte. Pedro de repente passageiro de outro ônibus: o emergente salto que o assaltou, para que, ânimo falho, não se furtasse à mala da moça, bagagem de quem fica mais que a semana.

Catarina agradeceu com voz suave a gentileza do transporte, a indicação do hotel, a dedicação dos olhos penhorados de Pedro. Dia seguinte era ele a ciceronear a visitante por arrabaldes e centro, reconhecendo-lhe a vontade de sorver o mundo velho de guerra em aguerridos goles. E nessa jornada de conhecer a cidade, foram-se abastecendo um do outro, de tal modo que em menos de três dias eram unha e carne, justapostos, com nada ou quase que de um já não pertencesse ao outro. Tanto que aquela vila arrefecida ganhou, aos olhos ali nascidos e criados de Pedro, nova carapaça colorida, ou perdeu a antiga, sem cor alguma, e era o tal moço uma só celebração. Catarina, que ali chegou, disse, disposta a esquecer em um mês antigas agruras do anjo sagitário, de três dias não precisou, com tão bem inaugurado e conduzido idílio.