Vôo
De onde estou lanço um olhar, um só, na direção de um pedaço indefinido do céu, por ninguém preferido, de cor nada ímpar, sem texturas inspiradoras. Eu lanço o tal olhar, certeiro por não se saber ser de outro modo; zombeteiro até, entediado com a palidez do azul pouco anil.
Mas é nesse átimo desértico, carente de inspiração e segredos, que aparece, cruzando o olhar quase desistente, um pássaro ágil, de vôo cortante, tanto que corta a linha desse meu olhar com tesoura veloz. E segue, sem que eu sequer imagine para onde vai, e nem mesmo me ocorre que tenha estado a ave ligeira no colo de alguma dama, ou na atmosfera do lixo municipal, ou na veia urbana cara e ruidosa.
Eu só me levanto, renego o espaldar e o travesseiro, atravesso o quarto e a sala e todas as portas e paredes, e me ponho nu e inteiro na rua perigosa. Não me é lícito, doravante, dormir.
Mas é nesse átimo desértico, carente de inspiração e segredos, que aparece, cruzando o olhar quase desistente, um pássaro ágil, de vôo cortante, tanto que corta a linha desse meu olhar com tesoura veloz. E segue, sem que eu sequer imagine para onde vai, e nem mesmo me ocorre que tenha estado a ave ligeira no colo de alguma dama, ou na atmosfera do lixo municipal, ou na veia urbana cara e ruidosa.
Eu só me levanto, renego o espaldar e o travesseiro, atravesso o quarto e a sala e todas as portas e paredes, e me ponho nu e inteiro na rua perigosa. Não me é lícito, doravante, dormir.
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