sábado, maio 08, 2010

O silêncio é de outro

Cerre os lábios, passageiro. Abstenha-se de desferir os arriscados verbos que o podem encerrar na prisão dos afetos, aos pés de quem tem poder para prendê-lo e soltá-lo. Cultive a proverbial mudez, enregelado na masmorra de sua segurança de papel. É cíclico o seu jejum de palavras profundas, irrisória a sua façanha de não dizer que há fogo no coração. Mas, desde já, grave nos olhos e na pele, escreva no diário e nas palmas das mãos a profecia que todos conhecem, menos você: que das águas distantes virá aquele que profere a sentença exata, e lhe tirará o ouro das mãos, e por não temer perdê-lo, ele dançará na biografia do estranho. E seu silêncio, passageiro, a sua mudez segura e indevassável, será a canção do vencedor.