segunda-feira, março 01, 2010

Silêncio

Não se pode viver do vácuo. Respira-se o ar rarefeito, arranhando a garganta com as renúncias mesquinhas de mais vida, suporta-se a ventania que se despeja nas narinas, embotando o olfato da poeira de muitos lugares não visitados. Discute-se o preço das alegrias, briga-se porque não há litígio, tão estranha é aos olhos limitados a ausência do conflito que inspira o verbo ácido. Planeja-se a neblina, comenta-se o movimento das folhas, ri-se do ciclone que levou aos ares a casa dos desejos. Mas esse silêncio constrange, subtrai a voz, desliga os cheiros, oblitera as cores. Não, não se pode viver do vácuo.