segunda-feira, novembro 21, 2005

Última sessão

A moça da pipoca. Simpática. Toda de branco, como a pipoca. Bem, a pipoca não é toda branca.
Pediu que deixasse com ela as latinhas de refri na saída do cinema. Valem dinheiro. Outro dia ela entrou na sala de exibição, terminada a sessão conta, em busca de sua própria arca perdida. Uma porção, conseguiu. Despojos.
A lenda do Zorro. Ação. Heróis. O tipo de aventura que eu já julguei capaz de repetir no dia a dia de um escritório, quando me permitia quimeras. Um herói lacônico e encantador, há um par de decênios. Depois, no exato meio da sessão, a convicção de que isso, que não era pouco, me havia sido tirado em gotas, como o sangue sugado direto dos pulsos, em vez do desperdício da navalha.
Um estopim de heroísmo e emoção glamourosa abortado antes do primeiro tiro, aquém do prenúncio de suspiro que me redimiria. É tarde.
Ao fim da sessão, deixo escoarem as pessoas outras, em número ralo. Colho as latas. Encontro a moça e lhe entrego o troféu pálido. Ela agradece. É hora de pegar o ônibus, do outro lado da rua.