quarta-feira, julho 27, 2005

Pirulito amargo

Na calçada em frente à escola um menino espera pacientemente pelo pai. Todos já se foram, falantes e risonhos, para suas casas tratar do restante do dia. Só ele aguarda a chegada tardia do pai, chupando um pirulito. Ninguém nunca aceita o pirulito que o menino oferece. É sempre um pirulito amargo, como não é vendido em lugar algum por ali, muito menos na cantina da escola, onde as guloseimas não param no estoque.

O pai do menino finalmente chega, silencioso e frio, e quando o menino tira o pirulito da boca para tentar mais uma vez lhe contar como foram as aulas, o recreio, as brincadeiras, o pai lhe faz sinal para que se cale e lhe entrega outro pirulito amargo, chupando outro ele próprio. Em seguida eles caminham em silêncio, os olhares sempre abaixo do horizonte, para uma casa em que não há jogos, nem brinquedos, nem cachorros ou gatos. Só há uma enorme despensa cheia de pirulitos amargos, que eles degustam exaustivamente, sem conseguir saber de onde vêm.