quinta-feira, agosto 25, 2005

Súplica

Uma gota de espasmo para dar a um duro a sensação, derradeira que seja, de vida. Um pouco de comichão sagrado, eletrochoque divino, para fazê-lo gozar a dor sem emplasto e o riso sem cercas de um dia sobre a terra. Não peço mais. E posso, enquanto espero a resposta, vê-lo banhado e quase afogado em lágrimas de satisfação. Posso vê-lo tocar as mãos frias de uma criança semimorta na Ásia, ouvir as histórias sábias das velhas senhoras bêbadas e cansadas de tanta estrada abrasiva. Órfãs de maridos e filhos emprenham os ouvidos atentos desse renascido, que depõe paletó e pasta, afrouxa gravata e conceitos, afasta grifes e planilhas, somente para ouvir os corações que saem pelas bocas em frases sem protocolo.