sexta-feira, julho 08, 2005

Dicas da Casa de Orates, por Leopoldo Tranco

Suponhamos que você saia daqui e bata a cabeça numa teia de aranha, o que fatalmente acarretará uma lesão na região glúteo-cavernosa da mente. Nesse caso, você deverá se dirigir à Sala de Remendos de Casco, a vigésima terceira porta à direita de quem sofre, na Ala dos Inadimplentes.

Não entre com a mão na cabeça. É falta de etiqueta. Se alguém perguntar qual o problema, diga que só os tolos têm problemas, mas já que está ali, que lhe estanquem aquele sangue incômodo.

Não se cale enquanto estiver sendo medicado. Podem interpretar seu silêncio como desfeita, sofrimento ou mesmo como sinal de maquinações perversas. Diga, por exemplo, que o dia não está tão quente para que não se pense em suicídio, ou teça algum comentário desconfiado sobre a higiene do lugar ou dos que ali labutam, como: “você lavou essa mão?”. Para maiores informações a esse respeito, consulte o oportuno Guia da Conversa Casual, do Professor Sumo Letargo.

Outro fator que não pode ser neglicenciado é a apresentação. Seu traje deve estar impecável. Equilibre o corpo o mais que puder para que o sangue se derrame por igual nos dois ombros. As manchas nos dois ombros devem ostentar a maior simetria possível. Se isso não for possível, alegue em tom casual que a simetria é um ditame a ser desafiado e você milita por uma maior diversidade nas formas.

E nunca, nunca mesmo, elogie ou agradeça o curativo. Onde irá parar um mundo em que um sujeito descaracteriza seu corte de cabelo, envolve sua cabeça com uma bandagem básica sem qualquer adereço, faz com que você cheire álcool ou éter em vez do mais puro perfume parisiense e ainda recebe elogios por isso?

No mais, somos menos.
Leopoldo Tranco

Leopoldo Tranco é estudioso das regras de comportamento e boa convivência da Casa de Orates e escreve neste blog toda vez que consegue driblar os enfermeiros.