quarta-feira, janeiro 26, 2005

Homenagem

O homem que hoje veio ler o medidor de energia elétrica fala sozinho todo o tempo, examinando repetidamente os números do medidor em busca de alguma verdade esquecida. Parece indeciso entre deixar cair no chão os papéis que traz e obedecê-los à risca. Sua canção de procedimentos é um tédio que zumbe. Subserviente, ele reverencia cada a corte de números que jamais se repetirão. Tem no bolso caneta e sujeira de outros dias.

Interessante o cabelo, algo com uma concavidade, como o Wolverine dos X-men. Além disso, ele funga compulsivamente, uma gripe que parece um choro contido, pelo qual parece querer pedir desculpas.

Ele confere, oh, Deus, ele confere e reconfere os malditos números, para ter certeza de que não vive em vão. Sorri, no final, está no rumo certo, caminha a passos largos para o paraíso dos leituristas.

Achei por bem homenageá-lo com um minuto de silêncio, não porque tenha morrido, mas para não aumentar ainda mais a sua confusão.