domingo, fevereiro 07, 2010

Derrubai as nuvens

Era só por muita teimosia que aquele anônimo estava ali, desnudo de sol e chuva, sedento de intempérie. E nenhum calabouço mudo o engoliria na imaturidade de uma manhã sem música. Nem ele mesmo se havia convencido na natureza dos dias que se bastam, por isso não mais o cadafalso lhe moveria os dentes nos pés dispostos a correr sem limite nem explicação. Uma só coisa o cansava, na magnitude dos compostos estranhos ao seu quê tão volátil e espontâneo: é que faltava alegria aos que ficavam na margem. E suas carrancas de vaticínio funesto eram coisa de lhe drenar força bastante. Então sobrepôs a eles uma máscara de equidade: todos eram felizes por tê-lo visto passar. E passava, indiferente à acusação de vaidade dos que não o queriam soberano e livre. Mas eu o vi, antes de impregnarem o ar de grades, a água de cuidados, a sensatez de desvãos, o bem-estar de ressalvas. E fui feliz ao contemplar a breve e indelével marcha de quem nada impôs, senão a posteridade sem nome, em todos os dias da paixão imediata.