quinta-feira, março 24, 2005

O primeiro dia

É a primeira vez que você está neste emprego, não é, Gonçalves? Percebo pelo tremor de suas mãos e voz. Relaxe, as pessoas aqui são legais. O serviço é uma moleza. Mas você não acredita em nada disso, você queria, mas não consegue acreditar, você é um daqueles para quem foi feita a Lei de Murphy. Entendo.

Tente imaginar que essa não é a primeira vez que você está neste lugar, com estas pessoas. Imagine-as há muito tempo trabalhando com você, da mesma forma sempre. Você as conhece nos mais ínfimos pormenores, a entonação de cada voz, o alcance de cada gesto, o incômodo de cada vício.

Imagine que esse trabalho é feito por você há pelo menos dez anos, e que não há nenhum detalhe dele que você não conheça muito bem. O destino de cada pasta, o valor de cada assinatura, o caminho percorrido por cada memorando entre o arquivo da frente da sala e o arquivo de trás da sala. Ninguém conhece essa rotina melhor do que você, Gonçalves. E agora, está mais calmo?

Então levanta daí, Gonçalves, sai desse emprego modorrento. Êta sujeito sossegado, sô.